O que não serve para nada (e por isso vale muito)

Ao renunciarmos ao inútil, abrimos mão do que nos faz pensar, sentir e existir

Umberto Eco dizia que é tolice criticar aqueles que compram mais livros do que conseguem ler. Para ele, seria como comparar livros a talheres ou chaves de fenda.

Livros são presenças silenciosas que aguardam o momento certo para serem abertos. Há neles um valor que não se mede pela utilidade imediata, mas pela possibilidade de transformação — às vezes, anos depois de terem chegado às nossas mãos.

Foi por essa lógica que me apaixonei por A Utilidade do Inútil, de Nuccio Ordine, um manifesto contra a visão utilitarista do conhecimento.

Se algo não pode ser mensurado ou monetizado, perde seu valor?

Ordine argumenta que vivemos em uma era em que o pragmatismo e a busca por retorno financeiro ofuscam o valor do saber pelo saber. Conhecimentos que não podem ser imediatamente aplicados são descartados, e a educação se torna um meio para apenas produzir, não para a formação de cidadãos críticos.

Os riscos do pensamento estreito

Conhecimento não se limita ao que pode ser usado de imediato, porque o saber é um processo que se desdobra no tempo. É justamente o que parece inútil à primeira vista que expande nossas referências, nos permite conectar pontos inesperados e construir uma visão mais sofisticada do mundo.

“Considero útil tudo o que nos ajuda a nos tornarmos melhores.” — Nuccio Ordine

O conhecimento utilitário opera no presente. Ele resolve, executa, funciona dentro de um escopo já definido. E é necessário. Mas conhecimento que forma pensamento crítico vai além, porque permite leituras mais profundas do mundo e do próprio ofício.

A mentalidade se desenha nas entrelinhas

O que absorvemos ao longo da vida molda profundamente nossa forma de ver o mundo. Essas experiências nos atravessam, sedimentando nossa maneira de pensar e agir.

Repertório, sociabilidade e presença são elementos que expandem nossas possibilidades, nos permitindo ir além do superficial. Um profissional que se limita ao conhecimento técnico pode dominar regras, mas não necessariamente consegue enxergar além delas. Quem constrói mentalidade, por outro lado, compreende contextos, nuances e, por isso, está sempre um passo à frente, antecipando oportunidades.

No Direito, essa capacidade faz toda a diferença. A letra fria da lei é apenas um ponto de partida. O verdadeiro diferencial está em quem transforma informação em visão.

Na próxima newsletter, trarei um tema que considero essencial para qualquer profissional: mentalidade empreendedora.

Você estará aqui?

O Pequeno Expediente está de volta. Retornei a esse espaço de pausa, de pensamento, de voz, inspirada pelo manifesto contrautilitário de Nuccio Ordine. Gostou do tema e quer seguir ampliando sua visão? Dê o play ↓

Já no último episódio, A Angústia da Medida, questiono os limites das coisas: qual é a justa medida? Como equilibrar presença e ausência, silêncio e expressão, esforço e descanso? Ouça aqui ↓

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lousa.educa

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